Acervo em liquidação
O Palácio Capanema é considerado símbolo do modernismo (Foto: Reprodução)
# A notícia de que o Palácio Capanema será vendido, num feirão de mais de dois mil imóveis do Governo Federal, evidencia duplo descaso com o patrimônio cultural brasileiro, por se tratar de um prédio tombado e de expressivo significado. O descuido com o imóvel vem de longe. Nunca foi procurada uma ocupação que tornasse constante sua visitação motivada por atividades culturais. O ministro Paulo Guedes anunciou a venda do imóvel.
# O desinteresse e falta de cuidado com nossa arquitetura, tradições e peças históricas refletem a falta de cultura do povo brasileiro. Isso pode ser constatado em todo o território nacional. Felizmente, alguns estados, como a Bahia e Minas Gerais, conservam exemplos do barroco brasileiro. A preservação das ruínas missioneiras dá realce aos Pagos.
# O palácio, cujo prédio tem 16 andares, é considerado símbolo do modernismo. A fachada é revestida com azulejos de Cândido Portinari e tem jardim de Burle Marx. O projeto tem as assinaturas dos mais importantes arquitetos brasileiros de todos os tempos. Entre eles, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira, Afonso Eduardo Reidy e Ernani Vasconcelos. O palácio conta ainda com a consultoria de Le Corbusier, mestre francês da arquitetura moderna.
# Relembro um fato, ocorrido em Porto Alegre, que reflete o desinteresse brasileiro pela sua cultura e bens históricos. O empresário Mário Martinez, cujos bens incluíam a Vila Conceição – área que pertencia à sua família e que posteriormente transformou-se no bonito Bairro da Zona Sul, ao longo da vida colecionou armas. Em determinada etapa, preferiu doar sua expressiva coleção a um dos museus portoalegrenses. Doação feita, as armas passaram ao acervo da entidade e ficaram em exposição. Depois de algum tempo, Mario foi avisado, em sua casa, que um visitante aguardava para lhe oferecer uma arma antiga. Mesmo sem ter interesse em novas aquisições, foi atendê-lo, curioso para conhecer a qualidade da arma que lhe traziam. Para seu espanto e constrangimento, reconheceu uma das peças antigas doadas ao museu. Em consideração ao mesmo, não vou citar o nome, esperando que saibam cuidar melhor de seu acervo.
A fachada é revestida com azulejos de Cândido Portinari. O jardim leva assinatura de Burle Marx (Foto: Reprodução)