Agenda de 2022: talento & personalidade
A artista Maria Lídia Magliani comprovou criatividade na sua trajetória artística (Foto: Reprodução)
# Maria Lídia Magliani e Xadalu Tupã Jekupé são os artistas que terão exposições no primeiro semestre de 2022 na Fundação Iberê Camargo. Denise Mattar será a curadora da mostra de Magliani, prevista para o mês de fevereiro.
# Maria Lídia Magliani, pelotense com formação no Instituto de Artes da UFRGS, foi diagramadora na redação de Zero Hora onde iniciou nossa amizade, que continuou no decorrer dos anos. Magli, como gostava de chamá-la, várias vezes nos surpreendeu com os trajes que comprovavam sua criatividade. Numa ocasião, usava um blazer montado como um patchwork, com recortes de tecido formando uma historinha com figuras variadas. Resistiu a todas as minhas propostas para trocarmos a peça por uma outra nova, à escolha dela.
# Ela, assim como o mestre Ibêre Camargo, sempre foram acessíveis às minhas sugestões de temas para suas obras. Magliani criou um quadro com colagem de dois olhos de raposa, complemento de um abrigo feminino usado nas primeiras décadas do século 20. Depois de concluído, me presenteou.
# Noutra ocasião, almoçávamos juntos quando comentei entusiasticamente ter conhecido flores negras, numa floricultura. No dia seguinte, recebi um desenho aquarelado com as flores que me encantavam.
Flores negras criadas por Magliani (Foto: Divulgação)
# Nossa ligação persistiu mesmo com o distanciamento nos períodos em que viveu em São Paulo, Minas e finalmente no Rio de Janeiro.
Magliani: firme nos seus posicionamentos (Foto: Acervo Núcleo Magliani/Divulgação)
# Lastimei que não tivesse participado da mostra dos 500 anos, que teve uma ala especial para pintores negros. Mas Magliani afirmava: “Ser uma pessoa de cor negra não interfere em nada na minha pintura, eu não entendo a sempre presente preocupação de pessoas com este aspecto. É minha vez de perguntar por que parece tão excepcional que um negro pinte? Por que a condição social de artistas de cor branca nunca é mencionada? Por que sempre me perguntam como é ser negro e ser artista? Ora é igual ao ser de qualquer outra cor. As tintas custam o mesmo preço, os moldureiros fazem os mesmos descontos e os pincéis acabam rápido do mesmo jeito para todo o mundo.” Portanto, não lhe agradava ser destacada por ser negra e pintora, conforme disse em entrevista ao jornalista João Carlos Tiburski, em 1987.
# Em março, a Fundação abre uma exposição inédita de Xadalu Tupã Jekupé com obras, projeção e som que retratam a cosmologia, a ancestralidade e, também, as lembranças de Alegrete e das águas que banharam a sua infância na antiga terra chamada Ararenguá, carregadas de história de Guaranis Mbyá, Charruas, Minuanos, Jaros e Mbones — assim como dos bisavós e trisavós do artista.
O artista Xadalu. A respeito de seus trabalhos o crítico de arte Paulo Herkenhoff comentou: “A arte de Xadalu não vai mudar o mundo, mas pode alterar nosso olhar“ (Foto: Carol Essan/Divulgação)