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As maravilhas de Saint Laurent

O icônico Grand Palais de Paris (Foto: Reprodução)

 

# Um dos eventos que suscitou maiores emoções no mundo dos colecionadores de arte e antiguidades teve como cenário o Grand Palais de Paris no final de fevereiro de 2009. Foi a venda da coleção de Yves Saint Laurent e Pierre Bergé num cenário de elegância e requinte por conta das peças de grande bom gosto e valor financeiro.

 

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Duas lendas: Yves Saint Laurent e Pierre Bergé (Foto: Reprodução)

 

# Saint Laurent e Bergé tiveram uma ligação afetiva e igualmente comercial, garantindo ao talentoso criador de moda igual sucesso financeiro. Com a partida do designer francês, nascido na Argélia, Bergé preferiu vender coleção feita a dois, destinando uma parte para fins benemerentes.

 

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No detalhe: os salões do Grand Palais estiveram lotados para o leilão (Foto: Reprodução)

 

# O acesso ao leilão só era permitido através de convites expedidos pela Christie’s. Os convidados, caso estivessem interessados em aquisições, deveriam fornecer os números de suas contas e os nomes dos respectivos responsáveis em cada estabelecimento bancário, para os responsáveis pela parte comercial da Christie’s. Os convites se esgotaram muitas semanas antes do dia 23 de fevereiro, início das vendas.

 

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A credencial da Imprensa permitiu acompanhar a venda considerada a mais importante do século até agora (Foto: Arquivo Pessoal)

 

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A bela obra do pintor James Ensor “Desespero do Pierrot” causou emoção ao ser apresentada (Foto: Arquivo Pessoal)

 

# Acompanhei vários dias do leilão e presenciei situações inusitadas na história das vendas de arte. Na noite de 24 de fevereiro, terça-feira Gorda de carnaval, um dos primeiros lotes apregoados foi a tela “Desespero do Pierrot”, do pintor simbolista belga James Ensor, num coincidência inesperada. A bela tela que vocês podem ver acima alcançou uma alta cotação.

 

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As banquetas criadas com desenho de Jacques Ruhlmann foram bem disputadas (Foto: Reprodução)

 

#Uma motivação especial: a ocasião em que foram apregoadas duas banquetas com desenho de Jaques Ruhlmann e executadas pelo artesão Alfred Porteneuve. O talento do designer e a fiel execução do autor garantiram o lance final de 120 mil euros. Foi o anúncio de outros recordes que se repetiriam a seguir.

 

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Fragmento de ametista do Brasil foi apregoado com o lance inicial de 5 mil euros (Foto: Reprodução)

 

# A surpresa especial foi a coleção de cristais importados do Brasil que igualmente alcançaram preços nas alturas. Pedras que nem sempre têm sua beleza e valor reconhecidos pelos brasileiros.

 

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Momento em que a cabeça de rato foi anunciada (Foto: Reprodução)

 

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Um caderno com informações das peças foi entregue aos convidados por representantes da embaixada da China (Foto: Arquivo Pessoal)

 

# Momento de tensão foi criado pela apresentação de duas cabeças, a de um coelho e a de um rato, retiradas na invasão do Palácio de Verão de Pekin, durante a incursão franco-inglesa. A embaixada da China e ativistas chineses fizeram distribuir folhetos, alertando para a origem das peças. Mesmo assim, foram arrematadas e seu proprietário, posteriormente, negou-se a pagar. Elas foram devolvidas ao governo chinês.

 

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Retorno das cabeças em bronze à China aconteceu em 2013 (Foto: Reprodução)

 

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Muito prestigiado o escultor animalista François Pompom, cuja obra Boston-Terrier em bronze foi bem cotada (Foto: Reprodução)

 

# Tive oportunidade de acompanhar a venda de uma figura de um cãozinho “Boston-Terrier”, de autoria do animalista François Pompon, que alcançou 25 mil euros. Igualmente outra raridade, uma peça decorativa da década de 30, verdadeira raridade de autoria do designer alemão Hermann Muthesius, criou expectativa na assistência que lotava o Grand Palais.

 

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A poltrona criada pela designer Eileen Gray alcançou um preço absolutamente inédito nas vendas de arte (Foto: Reprodução)

 

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Eileen Gray admirada pelo requinte de suas criações (Foto: Reprodução)

 

# O clímax das vendas ocorreu com a apresentação do “Fauteuil aux Dragons”. A belíssima poltrona criada pela designer Eileen Gray, inglesa que viveu em Paris, e executada por um artesão japonês, Inagaki que trabalhava exclusivamente para ela. Alcançou a gloriosa cifra de 21.905 milhões de euros... Confesso que levei algum tempo para digerir bem o que estava presenciando. Nunca se ficou sabendo quem foi o comprador. O jornal Le Figaro, que dedicou várias reportagens ao leilão, comentou especificamente a venda da poltrona, entre outros itens de preços milionários. Conclusão da reportagem do Le Figaro: “Nunca houve nada igual e dificilmente se repetirá. Talvez, nunca mais, pois resultou de ser uma coleção de grande categoria pertencente a um personagem admirado mundialmente e com os petrodólares jorrando nos Emirados Árabes.”

 

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O jornal Le Figaro dedicou vários números e uma revista especial para a venda de Saint Laurent e Bergé. O quadro de Picasso que aparece na reportagem não teve lances na sua primeira apresentação (Foto: Arquivo Pessoal)

 

# Recentemente, depois da partida de Pierre Bergé, seu companheiro dos últimos tempos, o paisagista americano Madison Cox realizou a venda das peças que tinham restado da coleção inicial, completando um ciclo. Vale repetir a apresentação do catálogo da primeira venda, que reproduzia um texto do escritor Edmond de Goncourt. Escreveu ele preferir que suas coleções sejam vendidas em leilões, ao invés de irem para museus, pois seguiriam dando prazer aos “herdeiros de suas preferências”, ao invés de restarem nos frios ambientes dos museus. As duas vendas formam um capítulo excepcional na história das coleções.