Cenário missioneiro
As Missões certamente têm um lugar especial na minha trajetória (Foto: Liane Neves/Arquivo pessoal)
O convite de Liane Neves para uma reportagem na edição gaúcha da Revista Caras, que iniciava o lançamento de suas publicações regionais, proporcionou-me a maior satisfação. Ao contrário de outros entrevistados de cidades diversas, que optaram por fotos nos interiores de suas casas, eu teria o prazer de escolher São Miguel das Missões, fascínio desde a infância, para as fotos e entrevista. Junto com Liane e a jornalista Luciana Stein, viajamos para lá, e foram bons momentos com conversas longas e fotos oportunas.
Capa da edição da Revista Caras em que me entrevistaram nas Missões (Foto: Arquivo pessoal)
Um grupo de jesuítas argentinos visitou São Miguel das Missões durante minha entrevista para a Revista Caras (Foto: Liane Neves/Arquivo pessoal)
Enquanto relatava minha formação como estudante do Colégio Anchieta, e o grande entusiasmo pela ordem criada por Santo Inácio de Loyola, um grupo de padres jesuítas chegou em visita às ruínas, proporcionando outras fotos e meus comentários a respeito da religiosidade de minha mocidade e a então possibilidade de seguir a carreira clerical.Foi também a oportunidade de usar botas e bombachas, que desde muito pequeno tive o costume de vestir, preferencialmente quando viajava para o campo. Sempre tive o cuidado de usar as indumentárias gaúchas com o maior apreço e buscando o brio do nosso homem do campo. Valorizo muito as minhas origens de Rosário do Sul, assim como o lado de imigrantes italianos que se instalaram no interior de Guaporé.Esta busca no tempo fica completa com o depoimento de Liane Neves, comentando esta outra passagem minha, que já tinha comemorado um aniversário lá, em São Miguel das Missões. Desta vez com um registro que soma boas recordações, aumentando minha admiração pelo monumento que é uma das mais significativas realizações de nossa História.
Trabalho de colagem realizado por Elizethe Borghetti com fotos da reportagem nas ruínas (Foto: Divulgação)
A artista, com sensibilidade, associou a imagem missioneira às figuras de indígenas num de seus trabalhos (Foto: Divulgação)
A artista Elizethe Borghetti, com muita sensibilidade, criou uma série de imagens a partir das fotos da reportagem, mostrando a presença dos índios nos redutos criados pelos jesuítas.
Luciana Stein e Liane Neves durante nossa visita a São Miguel das Missões (Foto: Nilson /Arquivo pessoal)
Relato de Liane Neves...
Foi no final dos anos 90 que fiz essas fotos com o colunista Paulo Gasparotto, uma matéria de capa para a Caras Rio Grande do Sul. Eu queria fazer com ele algo diferente e emblemático. Conversamos, perguntei qual lugar ele gostaria que fosse o cenário desta reportagem, prontamente me disse: nas Missões. Feito! Combinamos a viagem, a produção com algumas peças de roupas diferentes para ele levar. Foi quando ele me falou que sua bagagem contava com botas e bombachas. Adorei, e na hora falei, esta será a capa! E foi. E lá fomos nós para Santo Ângelo. Chegamos às Missões no final de uma tarde de domingo. Uma luz linda, aquele cenário incrível. Escolhi o melhor ângulo e fiz uma série de cliques. Foram as primeiras fotos e as mais intensas. Estava com minha parceira de Caras, a jornalista Luciana Stein, juntos fomos andando, desbravando o espaço. Aos poucos, Gasparotto começou a contar sobre sua vida. A Luciana sempre atenta e com seu bloco de anotações. Entre as coisas, falou que, quando era jovem, pensou em ser padre. Não poderia imaginar isto. No dia seguinte, uma manhã de segunda-feira, voltamos até as Missões para fazer mais algumas fotos. Só nós estávamos lá, eu, Luciana e ele, não tinha mais ninguém. Para nossa surpresa, chegou uma van com um grupo de padres jesuítas, todos de batina! Eu não acreditava no que estava vendo, tinha que fazer mais esta foto dele ali com os padres, tinha toda uma simbologia. E fiz. Momentos de uma reportagem inesquecível. Sei que o Gasparotto gosta muito dessas fotos e eu também.