Crazy days
Carlos Heitor de Azevedo numa das inúmeras e merecidas homenagens recebidas em Porto Alegre e no eixo Gravataí - Torres onde se radicou há mais de duas décadas (Foto: Divulgação)
# Um dos charmosos e divertidos capítulos da vida noturna e sociedade de Porto Alegre foi escrito com a atuante participação de Carlos Heitor de Azevedo. Intrépido e criativo, desde muito jovem mostrou sua habilidade em enfrentar as situações mais diversas. Por decisão pessoal, inscreveu-se para participar de um dos contingentes do Batalhão Suez, do Exército Brasileiro, enviados ao Oriente Médio como parte das Forças de Paz da ONU no conflito existente entre o Estado de Israel, o Egito, e seus vizinhos árabes. Recebeu uma medalha e diploma concedido pela ONU em homenagem festiva com seus companheiros de atuação.
# No retorno, fez uma escala na Europa, no início da década de 1960. Desembarcando em Porto Alegre, buscou uma atividade que lhe proporcionasse convivência divertida. Instalou o bar Crazy Rabbit, na esquina da Rua Garibaldi com a Avenida Independência. O pequeno espaço de drinks e danças foi o cenário cheio de glamour e alegria de uma nova fase na capital.
Ilustração em homenagem ao glorioso Crazzy Rabbit (Foto: Reprodução)
# Lá, aconteceram as demonstrações de quem dançava melhor o chá-chá-chá, introduzido em Cuba uma década antes e que tomou conta do mundo. Seguiram-se outras danças, como twist, a Pata Pata, da africana Miriam Makeba e tantos outros ritmos que Carlos Heitor divulgou e, inclusive, dançou, mostrando aptidão e desenvoltura.
A dança chá-chá-chá, verdadeiro fascínio na década de 1960 (Foto: Reprodução)
Capa do disco Pata Pata de Miriam Makeba, de 1967. Foi sucesso na pista do Crazy Rabbit (Foto: Reprodução)
# Como o espaço era limitado, e uma das determinações da casa era reunir gente jovem, bonita e de sucesso, a entrada era controlada por um porteiro, um jovem black - figura das mais simpáticas e sorridentes, mas decidido na seleção. O resultado foi um divertido episódio, em que jovens irrequietos e descontentes com o veto “raptaram” o porteiro por algumas horas deixando as portas do bar fechadas com um cadeado. A cena final foi de muitas risadas, com o porteiro retornando depois de algum tempo com a chave para abrir o cadeado.
# Esta cena repetiu-se mais tarde, tendo Carlos Heitor como autor. Ele costumava frequentar outras casas noturnas e numa visita ao Piano Drink - instalado pelo poeta Ovídio Chaves num trapiche na Avenida Praia de Belas, então às margens do Guaíba - resolveu pregar uma peça. Ao sair, levantou a parte levadiça do acesso ao trapiche. A solução foi um voluntário entrar no Guaíba para retornar o acesso ao original. O “feito” teve brindes em clima de muito humor.
O Piano Drink nos traços de Vitório Gheno (Foto: Vitório Gheno/Reprodução)
# Carlos Heitor instalou ainda a Baiúca, na Avenida Independência, local de intensa movimentação até o amanhecer, quando o complemento era atravessar a rua para tomar sopa no simpático recanto da “Tia” Dulce. A Baiúca foi outro espaço memorável, proporcionando surgir outras casas noturnas, entre elas, o Encouraçado Butikin e La Locomotive.
# Carlos Heitor aliava intensa atividade política e atuações em favor da comunidade carente. Junto com ele trabalhei num semanário, o Shopping News, cujo editor, o jornalista Paulo Koetz, nos dava autênticas aulas de Jornalismo.
# Mais tarde, instalou-se em Itapeva, atuando em Torres e dedicando-se a várias atividades. Inclusive uma publicação relacionada à movimentação da orla. Os cuidados com um sítio em Gravataí ocupam ainda seu tempo. Em boa forma, segue acompanhando o cotidiano da orla gaúcha.