Devaneios amorosos & abajur lilás
Dalva de Oliveira marcou uma geração com o seu talento (Foto: Reprodução)
# Avesso a curtir fossa desde cedo, não escapei do entusiasmo por dois sambas do gênero dor de cotovelo. Um deles "Ninguém me ama" (1952), de Antônio Maria e Fernando Lobo, magistralmente interpretado por Nora Ney. O outro, “Que será”, composição de Marino Pinto e Mário Rossi, assinalou um dos capítulos do rompimento da cantora Dalva de Oliveira e o marido, Herivelto Martins, um dos maiores compositores brasileiros.
# A letra de “Que será” menciona: “Que será da luz difusa do abajur lilás se nunca mais vier a iluminar outras noites iguais?”. Sempre tive a maior curiosidade com a luminária nessa tonalidade que lembra intimidade amorosa, devaneio romântico. Confesso que não tinha encontrado nada que satisfizesse a minha fantasia até deparar com a luminária da foto num das vendas organizadas por Beth Schmidt e José Luis Santayana, no Garimpo. O novo proprietário tem um símbolo de marcante sentido amoroso.
# Ainda Dalva de Oliveira: sua trajetória foi assinalada por canções de muita beleza. Entre elas, duas marchas de Carnaval, “Bandeira Branca”, composta pela dupla Max Nunes e Laércio Alves. A bonita letra da marcha-rancho foi inspirada em uma velha tradição do Carnaval, especificamente das escolas de samba. A outra, “Estrela do mar - Um pequenino grão de areia..”, marchinha de 1951, composição de Marino Pinto e Paulo Soledade, que na época tornou-se uma espécie de “hino” gay. Grandes cantoras, como Nora Ney e Dalva de Oliveira, seguramente não teriam lugar na atualidade em que reina o funk e suas variações.
Abajur lilás: luz difusa em noites românticas (Foto: Divulgação)