Ilza Chaves: a Dama do século 20º
A morada em que Ilza Bastian Pinto Chaves Barcellos residiu desde seu casamento até o final da vida - residência dos ancestrais do clã Chaves Barcellos, reunia preciosidades como os itens que compõem registro acima. As cadeiras, que pertenceram ao mobiliário do Palácio Piratini, o delicado floreiro de prata inglesa, o queimador de perfumes em metal cloisonné e o perfumeiro em cristal francês com as iniciais I.C. – Ilza Chaves como usava seu nome (Foto: Pedro Antônio Heinrich/especial)
# Dona Ilza Bastian Pinto nasceu em São Leopoldo a 27 de maio de 1879, sendo batizada no mês seguinte na Capela São José dos Alemães, atual igreja da Rua Alberto Bins, em Porto Alegre. Era filha do casal Carlos Thomaz Pinto e Maria José Bastian, de influente família pelotense. Seu pai havia fundado oito anos antes a famosa Livraria e Editora Americana, com filiais em Rio Grande e Porto Alegre. Na Capital, ocupava a movimentada esquina da Andradas com a General Câmara. A ascendência alemã se dava pelo lado materno de Ilza, sendo seus avós João Henrique Bastian e Francisca Romana Teltstcher.
No detalhe: as iniciais “IC” na tampa do perfumeiro (Foto: Pedro Antônio Heinrich/especial)
# Segundo histórias da família, após retornar de uma visita a Carlos Pinto, o rico comerciante Comendador Antônio Chaves Barcellos teria comentado com os seus filhos sobre “duas moças, bonitas e prendadas” que havia visto na livraria, Ilza e sua irmã Marieta. O comentário deu frutos, casando-se os irmãos Pedro e Nico Chaves Barcellos com as irmãs Bastian Pinto.
# O enlace Ilza-Pedro se deu em 22 de novembro de 1899, na Catedral de Porto Alegre, contando os noivos com 20 e 35 anos, respectivamente. Desse casamento não resultaram filhos, mas com a morte da sogra no mesmo ano, Ilza logo assumiu a condição de “matriarca” dos Chaves Barcellos. Foi a ausência de filhos, talvez, que fez com que o casal dedicasse também grande atenção à infância desvalida, contribuindo com grandes somas para iniciativas como a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e de Pelotas, o Pão dos Pobres e o Asilo Padre Cacique.
Beleza e elegância: Ilza Bastian Pinto Chaves Barcellos no registro feito em Paris (Foto: Divulgação)
# Pedro faleceu jovem em 1920, deixando Ilza viúva aos 41 anos. Herdeira de grande fortuna, composta principalmente por imóveis, deu seguimento aos trabalhos assistenciais. Em conjunto com os irmãos do esposo – Paulino, Antônio Filho e Ismael –, proprietários da firma Chaves & Almeida, resolveu homenagear a memória de Pedro com a criação de um asilo para meninas pobres e desvalidas. A aquisição do terreno e a construção do prédio, tudo avaliado em mil contos de réis, tramitou pela firma. Inaugurada em 19 de março de 1924, e entregue à administração das Irmãs Franciscanas, a iniciativa recebeu o nome de Pia Instituição Pedro Chaves Barcellos, atualmente funcionando na cidade de Alvorada.
# Ilza sobreviveu a todos os seus cunhados e à sua irmã, vindo a falecer em Porto Alegre com quase 100 anos de idade.
O floreiro em prata, design inglês, tem arranjo de orquídeas brancas criado por Vanessa Ramos, do Atelier das Flores de Angélica Martins (Foto: Pedro Antônio Heinrich/especial)
# Dona Ilza Bastian Pinto Chaves Barcellos, ou Ilza Chaves como usava em seu cartão de visitas, encimando os dizeres de que recebia para chá sempre às quintas-feiras, juntamente com seu marido, o empresário Pedro Chaves Barcellos, liderou a sociedade gaúcha durante grande parte do século 20. Bonita, elegante e culta, teve a admiração de todos e colaborou de forma expressiva com a comunidade carente. Entre outras, a criação da Pia Instituição Chaves Barcellos, cujo prédio vai sediar a CasaCor RS 2022.
# Ilza Chaves teve um grande número de amigos, de ambos os sexos, entre outros Dona Darcy Sarmanho Vargas. A então jovem esposa do governador Getúlio Vargas contou com o apoio e a orientação de Dona Ilza durante o tempo vivido em Porto Alegre. Ao se despedir, presenteou a amiga com peças antigas trazidas da França para mobiliar o Palácio Piratini. Ilza cativava todas as gerações, como ocorreu com Annah Chaves Linck, sua filha, Maria Luisa Linck Jardim e a neta, Heloisa Jardim Cestari, que estiveram sempre próximas dela. Entre os amigos, o médico Waldemar Job foi de grande dedicação.
O biombo, composto de madeira nobre e vitrais, proveniente da Europa, adornava uma das entradas de sua morada, na Rua Duque de Caxias, Centro Histórico (Foto: Pedro Antônio Heinrich/especial)
#Nesta sexta-feira (dia 27), comemorava-se o aniversário de Ilza Chaves e o destaque evidencia sua marcante personalidade, pois é relembrada nos dias atuais. O restauro do imponente prédio da Pia Instituição é de responsabilidade do escritório Studio1 Arquitetura, sendo o responsável técnico o arquiteto Lucas Volpatto.
# Por sua vez, o ambiente da CasaCor RS 2022, que homenageará Dona Ilza, é assinado pelos escritórios Studio1 Arquitetura e Patrícia Pasini Arquitetura, com os arquitetos responsáveis Lucas Volpatto, Jacqueline Manica e Patrícia Pasini.
(Participação de Pedro Mengden Meirelles, doutor em Historia e pesquisador.)