Magia da noite
Dorival Caymmi e Vinicius de Moraes, trazidos por Rui Sommer, estiveram em 1967 no Encouraçado Butikin (Foto: Reprodução)
Os relatos da noite de Porto Alegre poderiam iniciar com Luiz Alves de Castro, mais conhecido como Lulu dos Caçadores, criador do primeiro clube noturno da capital. O capítulo mais recente inclui o poeta Ovídio Chaves, com o Clube da Chave; Carlos Heitor de Azevedo com o seu charmoso Crazy Rabbit, e Rui José Sommer e o elegante Encouraçado Butikin, num porão da Avenida Independência.A decoradora Emilia Schneider inovou, instalando sua galeria de arte num porão numa das antigas moradas da tradicional avenida, junto ao atelier da grande dama da alta costura Mary Steigleder. Por sua vez, o jovem advogado Rui Sommer, depois de uma vitoriosa causa judicial, propôs-se a instalar uma boate no mesmo porão, junto à galeria. Ao final, Emilia transferiu a galeria para o então Teatro Leopoldina e a casa noturna foi ampliada.O arquiteto Milton Mattos foi o autor do projeto, aproveitando com qualidade excepcional os diversos planos do porão e completou, com o bom gosto habitual, incumbindo Xico Stockinger de criar a placa com o nome “Encouraçado Butikin”, trocadilho divertido com o nome do filme O Encouraçado Potemkin, produção soviética dirigida por Serguei Eisenstein. A adesão do café society e a garotada conhecida que circulava na noite foi imediata e a casa se tornou um sucesso completo.
Meu primeiro encontro com Elizeth Cardoso foi no Butikin e resultou numa longa e afetuosa relação de amizade (Foto: Arquivo pessoal)
Uma das realizações da noite elegante de Porto Alegre: o convite de 12 anos do Encouraçado Butikin (Foto: Arquivo pessoal)
Josephine Baker foi festejada por Rui Sommer em sua passagem pela capital (Foto: Reprodução)
Rui, cujo segundo prenome José foi por conta da data de nascimento, 11 de março, dia devotado a São José, tinha a proverbial sensibilidade do signo de Peixes e a instabilidade proporcional. Extremamente generoso e cheio de ideias geniais, trouxe artistas como Elizeth Cardoso, que não vinha a Porto Alegre há décadas, Bethania, inúmeras vezes, Maysa Matarazzo e, lest but not least, a incrível Aracy de Almeida, que não andava de avião. Nessa visita, que foi a última a Porto Alegre, viajou de ônibus. Para não deixar de fora a lista dos nomes internacionais, veio a temperamental e não menos talentosa Dalida. É importante acrescentar a visita de Josephine Baker que, no apagar das luzes, fez um show com mínima frequência no Teatro Leopoldina. Rui, desejando festejar a musa do musical parisiense, foi ao camarim convidar para um champanhe em sua homenagem. Josephine atravessou a rua e foi brindar com Rui e os habitués da casa.
Encouraçado Butikin: O convite para uma noite exclusiva... (Foto: Arquivo pessoal)
... com as patronesses e participantes do Catálogo de Brotos de 1972... (Foto: Arquivo pessoal)
... teve sua contracapa ilustrada (Foto: Arquivo pessoal)
O Encouraçado reunia obras de bom gosto: além da placa criada por Xico Stockinger, a pequena sereia, desenhada por Ziraldo era a logomarca da casa noturna (Foto: Reprodução)
Personalíssima: Dalida numa apresentação inesquecível (Foto: Reprodução)
Atuação efetiva no Encouraçado: Tatata Pimentel com José Alberto Griebler, José Damasceno e Cairu Poeta, numa noite festiva na década de 60 (Foto: Reprodução)
Fomos muito amigos até o seu final, depois de um período de doença, e teria histórias variadas para recordar. Mas, costumo dizer que muitos dos relatos a respeito de personagens de evidência caem na mesmice do que classifico de “minhas memórias dos outros”. Isto é, os relatos saem cheios de interpretações pessoais... de vivências alheias.
A arte da capa do LP Encouraçado Butikin levava a assinatura de Péricles Gomide (Foto: Reprodução)
Texto escrito por mim sobre o Encouraçado, apresentando o LP especial (Foto: Alexandre Heckler)