Magia das sapatilhas
Márcia Haydée: dedicação à dança (Foto: Reprodução)
# Uma das bailarinas que aprendi a admirar muito cedo foi Márcia Haydée, entre outros nomes da dança clássica. Ela iniciou a carreira no Rio de Janeiro e num curto espaço de tempo foi aprimorar seu talento na Inglaterra, fixando-se, posteriormente, na Alemanha. Não tive oportunidade de aplaudir suas performances no Brasil, mas uma coincidência inesperada me proporcionou acompanhar alguns de seus espetáculos na Alemanha.
# Convidado pelo setor de Turismo da Alemanha, fiz minha primeira visita na década de 1970. Respondendo à pergunta do que gostaria de conhecer, incluí a fábrica e o museu da Mercedes Benz. A solicitação causou surpresa, pois o meu setor de atividade não era esporte nem automóvel. Meu argumento convenceu: achava impreterível conhecer um dos símbolos da indústria e bom gosto do país. Assim, Stuttgart entrou para o meu roteiro, que se iniciou em München. Pouco depois, cheguei a Stuttgart, onde tive oportunidade de conhecer a fábrica e o museu da Mercedes.
Dupla emoção em Stuttgart, visitando o Museu da Mercedes Benz e aplaudindo a dança de Márcia Haidée (Foto: Arquivo Pessoal)
# Tive oportunidade de conhecer Herr Schmolk, diretor do museu, que me ciceroneou pelo espaço com os diversos modelos de vários anos. Nossa conversa foi longa e ele perguntou qual o modelo que me causara admiração. Indiquei um protótipo com um painel de cristal, separando os passageiros do motorista com quem a comunicação se dava através de um sofisticado telefone colocado num descanso junto ao banco. Herr Schmolk deu uma gargalhada e comentou, divertido: ”Sangue não é água, nós não gostamos deste modelo que foi criado especialmente para a aristocracia italiana na década de 1930... e você confirmou a sua origem italiana.”.
Musa: Márcia Haydée num dos espetáculos do ballet de Sttugart (Foto: Reprodução)
# Uma magnífica surpresa me deu grande prazer. Naquela mesma data, tive oportunidade de assistir Márcia Haydée dançando “La fille mal gardée”, com coreografia de Sir Frederick Ashton. Outras visitas à Alemanha me proporcionaram aplaudir Márcia Haydée em vários espetáculos.
Catálogo de apresentação do Stuttgarter Ballet Annual (Foto: Reprodução)
Márcia Haydée e Richard Cragun foram casados durante 16 anos (Foto: Reprodução)
# Entre todas as coreografias em que a grande bailarina brasileira se destacou, foi especialmente marcante vê-la dançar “Um bonde chamado desejo”, com coreografia de John Neumeier, baseado no texto de Tennessee Williams. Foi na primeira apresentação do Festival Internacional de Dança, em 1985, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ela recriou de forma inigualável a personagem Blanche Dubois, usando sapatilhas.
# No último ano, foi lançado o documentário Márcia Haydée — Uma Vida pela Dança, tendo como produtora associada Monica Athayde Lopes, irmã de Márcia, e que foi apresentado em Porto Alegre no Guion Center. Ela é do signo de Áries, o mesmo de Charles Chaplin e Marlon Brando, entre outros astros, e renovou sua vida sempre assumindo atividades relacionadas à dança. Teve elogiada atuação frente ao Ballet de Santiago, no Chile. Entre muitas homenagens, Márcia Haydée recebeu o Deutscher Tanzpreis e Prêmio Nijinsky. O Brasil a distinguiu com a Orden al Mérito Cultural do Brasil em 2004