Personagens incomuns do século XX
O palacete do casal Carlos Daudt: um dos mais elegantes da Avenida Independência no início do século XIX (Foto: Arquivo pessoal)
# O clã Daudt assinalou de forma expressiva o século XX com atividade empresarial bem sucedida. Carlos Daudt comandava a União de Ferros e um de seus filhos, Alfredo Corrêa Daudt, foi um dos pioneiros da aviação brasileira. Aplicado aluno da Escola de Aviação do Aeroclube Brasileiro, preparou minuciosamente sua aeronave, um Ansaldo S.V.A., monomotor biplano italiano de 270 HP, para um voo, partindo do Rio de Janeiro até Porto Alegre e daqui continuando a Buenos Aires. Seria o primeiro “reide” até a capital gaúcha.
Dona Carolina Corrêa Daudt e Carlos Daudt (Foto: Arquivo pessoal)
O aviador Alfredo Corrêa Daudt: um dos primeiros entusiastas da aviação no Brasil (Foto: Arquivo pessoal)
O aeroplano Ansaldo S.V.A, modelo utilizado por Alfredo Corrêa Daudt (Foto: Arquivo pessoal)
Representação do aeroplano Ansaldo S.V.A (Foto: Arquivo pessoal)
# O projeto resultava de 19 voos solos, todos bem executados pelo jovem aviador de 24 anos, e de um treino intenso de 22 dias. O vôo, iniciado muito bem, começou a ter problemas logo no litoral paulista com nuvens que não permitiam a visão. A situação agravou-se e a intenção de pousar em Santos foi frustrada, obrigando a uma aterrissagem emergencial, mergulhando na arrebentação, pois a outra opção, a praia, estava repleta de banhistas. O Ansaldo S.V.A. capotou na água sofrendo danos e o jovem aviador teve problema de luxação do braço. Alfredo Corrêa Daudt soube desenvolver o entusiasmo pela aviação no Brasil com evidência no Rio Grande do Sul.
# Especialmente sua mãe, Carolina Corrêa Daudt, apoiava a entusiástica vocação do filho, cujo quarto, na mansão da Avenida Independência, esquina da Rua Santo Antônio, era decorado com um friso, criação de Ferdinand Schlatter, autor das pinturas da Biblioteca Pública Estadual. Retratava os primeiros aviões da história, entre eles o 14 Bis, também conhecido como Oiseau de Proie, um avião construído pelo inventor brasileiro Alberto Santos Dumont.
Dona Carolina Corrêa Daudt em sua chácara na Avenida Cel. Marcos, instalada com criatividade e bom gosto (Foto: Arquivo pessoal)
# O requinte de Dona Carolina Corrêa Daudt com sua mansão se revelava em detalhes, como um painel na entrada que mostrava um céu estrelado ao ser acionado eletricamente. Seu gosto pela culinária se comprovava com a cozinha, verdadeiro sonho de gourmet, tendo um fogão industrial a lenha e dois outros menores para preparar suas iguarias. Costumava presentear os amigos com confeitos incomuns elaborados por ela, como uvas-passas, em cacho, recheadas de doce de amêndoas. Os estojos exclusivos estavam à altura de seu bom gosto.
# Essa matriarca, que conduzia os negócios da família com zelo e talento, tinha entusiasmo pela natureza. Em sua chácara da Rua Cel. Marcos, o pomar contava com duas tamareiras adquiridas em uma viagem ao Egito, entre outras árvores selecionadas. Esta ariana, nascida no dia 20 de abril, era igualmente exigente com os seus livros de culinária como podem conferir na fotografia. Personagem marcante na sociedade gaúcha.
Os requintes com a culinária se evidenciam com o cuidado livro de receitas (Foto: Arquivo pessoal)
