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Prazeres do livro

O pequeno livro “De L’Homme” - Stendhal (Foto: Alexandre Alvares Heckler/especial)
Um dos presentes de maior significado pessoal me foi oferecido por Dona Idalina Garcia de Barros, esposa de um dos jornalistas de expressão no século 20, Salatiel Soares de Barros, um dos fundadores do Correio do Povo, junto com Caldas Junior, e de atuação brilhante em outros setores.Conheci Dona Idalina através de sua filha, a escritora Maria Inez Barros de Almeida. Passei a frequentar a morada dos altos da Rua General Câmara, um casarão antigo repleto de livros. Minha amiga era brilhantemente inteligente. Entre outras histórias relacionadas à sua dedicação aos estudos, existia o relato de que, aos 18 anos, em Quaraí, aprendeu francês e incumbiu-se a ensinar ao jardineiro da casa para poder exercitar a conversação. Ela não confirmava e dizia ser uma invenção dos amigos. Autodidata, falava latim e grego, entre os idiomas aos quais se dedicava.Com as filhas Alice e Maria Inez vivendo no Rio de Janeiro, escolheu residir lá. Convidou os amigos para uma despedida. Foi com um chá no final de uma tarde da década de 1960. Na despedida, sugeriu que cada amigo escolhesse uma lembrança da casa. Lembrando a história do seu exercício de conversação em francês, pedi como recordação um dos primeiros livros que havia lido naquele idioma. Ganhei “De L’Homme” - Stendhal, edição da Bibliothéque Miniature.Guardei com cuidado e resolvi solicitar uma capa especial para sobrepor à existente. Procurei um conhecido encadernador, levando uma placa de madrepérola trabalhada que desejava colocar sobre a nova proteção. Na data programada para a entrega, aguardava-me uma noticia desastrosa: o pequeno livro havia sido extraviado na oficina. Recolhi o material levado para criar a nova capa, saindo totalmente decepcionado.Passados alguns meses, Sarinha Turkenitch, então dedicada à sua “Prosa e Verso”, foi a Paris para uma feira de literatura e trouxe uma lembrança adquirida num estande de livros antigos. Fiquei surpreso pois, sem saber do ocorrido, ela havia comprado outra edição do livro perdido.
No detalhe: a artística encadernação para o pequeno livro de muito significado (Foto: Alexandre Alvares Heckler/especial)
Quase no mesmo dia, chega do Rio de Janeiro, para uma visita a Porto Alegre, Maria Inez Barros de Almeida, escritora de talento que, entre outros textos para teatro, criou a bem sucedida peça “O Diabo Cospe Vermelho”. Quando nos encontramos, relatei o fato e ela escreveu uma dedicatória especial no livro.
Maria Inez Barros de Almeida fez uma dedicatória especial no livro (Foto: Alexandre Alvares Heckler/especial)
Entrevistando o Desembargador Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, dedicado à literatura e possuindo uma importante biblioteca, mais tarde, ouvi-o comentar: ”Os livros procuram o seu dono”. Relatei o que ocorrera comigo, que literalmente comprova a sua afirmativa.